A televisão

Na Universidade do Texas, em Austin, o notável doutor Daniel Buss, desenvolveu um estudo muito interessante a respeito da televisão e dos meios de comunicação de massa.

 

E nesses estudos, o professor Buss se deu conta de que a televisão tem o condão de modificar os critérios de status e de prestígio no mundo.

 

Consegue criar ídolos instantaneamente. Transformar pessoas insignificantes em heróis, da noite para o dia.

 

Ao mesmo tempo a televisão é capaz de derrubar líderes, ídolos com esse mesmo poder de interferir na mentalidade coletiva.

 

Ao mesmo tempo em que a televisão foi capaz, e vem sendo capaz de produzir essa fenomenologia social, psicossocial, também ela altera os padrões de vivência psicológica das criaturas. Passa a aumentar a autoestima baixa dos indivíduos porque, cada vez que a criatura vê na telinha um artista, um dos seus ídolos, de determinada maneira vestido, penteado, com o corpo mais ou menos emagrecido, esculturado, malhado, sarado, o telespectador vai se sentindo humilhado por aquele estado de coisas. Ele vai sentindo necessidade de se igualar, de se equiparar ao seu ídolo.

 

E, por causa disso nós vemos que, se numa telenovela, por exemplo, um personagem aparecer vestido de determinada forma, o comércio impõe às massas usar aquela mesma vestimenta.

 

Determinada joia, corte de cabelo, penteado e lá está a população perfeitamente entrosada com seus ídolos. E a televisão então vai moldando os caracteres dos indivíduos, que nela encontram as suas referências, seu norte, seu prumo.

 

Por causa disso, então, é que vale a pena cada vez que estejamos pensando, falando na questão televisiva, tomarmos cuidado com a influência que ela esteja desempenhando sobre nossas vidas. Exatamente porque os meios de comunicação visuais que nós conhecemos, todos eles têm esse poder de mexer na criatura. O índice de insatisfações vai se ampliando.

 

Cada vez que eu vejo, na televisão, alguma coisa que eu ainda não sou, que eu ainda não tenho, que eu ainda não adquiri, advém-me um desejo muito grande de ter, de ser daquela forma, de fazer daquele modo.

 

Desde as nossas crianças. Vemo-las dançando como seus ídolos da telinha, jovens desejosos de cantar, de bailar, de fazer as mímicas, as interpretações, em consonância com os seus ídolos. Cada qual vai perdendo a referência de si mesmo e tomando para si a referência do outro.

 

Naturalmente que para a sociedade, para o desenvolvimento do indivíduo, isso é pernicioso porque nem todos os exemplos, nem todos os padrões que nos são apresentados pelos meios de comunicação visual, são salutares, são saudáveis.

 

Quantas vezes encontramos artistas falando verdadeiros impropérios contra a honra familiar, ao narrar seus casos pessoais, quase sempre indevidos. Vemos que há uma leva de criaturas que passa a copiá-los. Logo, há que se ter cuidado com esse poder influenciador da televisão.

 

Mas, quais são as pessoas as quais a TV consegue influenciar com essa força?

 

Não são os indivíduos bem educados emocional, moralmente, eticamente. Quase sempre, faz parte esse contingente da leva da Humanidade que não tem outras referências ou não fixaram outros valores que não tenham sido esses apresentados pela televisão.

 

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Conforme os estudos do professor Daniel Buss, a televisão e as mídias visuais impõem uma maior importância à aparência física.

 

Ninguém pode se apresentar diante das câmeras sem que tenha uma boa aparência e, naturalmente, isso mobiliza mil e uma providências, a aparência fisionômica. E surgem as necessidades plásticas, as cirurgias plásticas, os implantes, tudo isso para melhorar a aparência.

 

Os cabelos, os cortes, as tinturas, as vestimentas, as roupas, a própria expressão do corpo físico... O indivíduo tem que ser magro para fazer sucesso. Ou o indivíduo tem que ser gordo para fazer sucesso. Ele não pode ser como queira, ele tem que obedecer a um padrão de sucesso.

 

Encontramos, ao lado disto, a diminuição do bem-estar psicológico, diz o professor Daniel Buss. E essa diminuição da satisfação psicológica se deve a isso que já cogitamos. Cada coisa que eu vejo que está melhor do que eu, eu a desejo. Cada situação que o artista está vivendo e que eu nunca vivi, eu almejo.

 

E, desse modo vão surgindo as possibilidades de nos enfararmos um com o outro, no caso dos casais. Aquele modelo da telinha, homem ou mulher, começa a falar profundamente à desarmonia que já trazemos na nossa intimidade.

 

Então queremos encontrar uma pessoa com aquele padrão, conforme aquele ator, aquela atriz, aquele cantor, aquela cantora, aquele atleta. E a nossa infelicidade vai crescendo, tudo porque vamos assistir à programação televisiva sem o devido ajustamento interior.

 

Não conseguimos essa educação que nos diz que o valor não é uma coisa que trazemos de fora. O valor é uma construção que fazemos por dentro.

 

Não importa se lá, na mídia televisiva, um artista se vista assim ou assado, eu vou me vestir como eu possa.

 

Não me importa se o galã seja magro ou seja gordo. Eu vou ter o corpo que eu devo ter, que eu preciso ter ou que eu posso ter.

 

Não nos deve impressionar se aquele artista, aquele astro tenha olhos azuis, verdes, amarelos para que eu me desespere para conseguir uma lente de contato da mesma cromação.

 

Tudo isso vai fazendo com que passemos a viver para fora de nós, passemos a ver a nossa vida como alguma coisa exterior e não como uma realidade íntima.

 

É feliz na Terra, não quem está na televisão, não quem aparece na telinha, mas quem consegue viver no mundo as Leis da vida, as Leis de Deus, onde quer que se encontre.

 

É válido que nós admiremos a beleza plástica desse ator, dessa atriz, desse cantor, desse bailarino, desse ídolo. É válido. As coisas bonitas são bonitas porque são bonitas.

 

No entanto, essa educação que vamos impondo a nós próprios, vai fazendo com que vejamos que tudo aquilo não passa de uma grande fantasia. Não conhecemos a vida real desses indivíduos que, à frente das câmeras, são personagens. A realidade do indivíduo que eles são nós desconhecemos totalmente.

 

Por isto, vale a pena pensarmos em quem é que faz a televisão, quem é que organiza a sua programação, quem é que estrutura seus plantéis de astros e estrelas, homens e mulheres atormentados no mundo como quaisquer outros, com suas deficiências morais, com suas grandezas morais, com suas facilidades emocionais, com suas dificuldades emocionais, com suas carências afetivas, com seu orgulho, sua vaidade. E, certamente que esse veículo, tão importante como é a televisão, vai sofrendo os mareios ou vai recebendo as virtudes daqueles que estão por trás da máquina que faz tudo isso acontecer.

 

É um grande teatro. Mas nós todos proviemos do grande Além para a Terra com um compromisso, não de seguir os passos dos modelos humanos, mas os Bons Espíritos estabelecem que o maior Espírito, que Deus deu ao mundo, para servir-nos de Modelo e de Guia, é o Homem de Nazaré.


Transcrição do Programa Vida e Valores, de número 199, apresentado por Raul Teixeira, sob coordenação da Federação Espírita do Paraná.
Programa gravado em agosto de 2009.
Exibido pela NET, Canal 20, Curitiba, no dia 11 de julho de 2010.
Em 11.1.2021

© Federação Espírita do Paraná - 20/11/2014