Conflitos existenciais

 

Uma das coisas mais comuns no ser humano é a insatisfação. Esse espinho da insatisfação acompanha o homem, desde as mais longínquas idades e essa insatisfação costuma gerar conflitos.

 

Mas, ao lado da insatisfação, existem dúvidas que geram insatisfações. Há ansiedades em função das insatisfações. Em verdade, percebemos na criatura humana, um número muito grande de conflitos.

 

Esses conflitos vazam da intimidade do ser e acabam contaminando as coisas feitas por esse ser.

 

Nós encontramos, nas criaturas humanas, achamos, em cada um de nós, os mais variados tipos de conflitos, que costumam se manifestar nas intensidades mais diversas.

 

Encontramos aqueles que têm, por exemplo, conflitos relativamente ao seu biotipo.

 

Há pessoas que se acham feias e, porque se acham feias, passam a se punir, a se castigar ou a buscar uma série de supostas atenuantes para sua suposta feiura.

 

E, por causa desse sentimento de feiura, elas têm autoestima baixa, porque a criatura que se julga feia, não tem coragem de sair, de se arrumar, de encontrar um namorado, uma namorada, de ir a festas porque estará sempre supondo que alguém não gosta da sua expressão.

 

Mas, há aqueles outros que sofrem conflitos, que vivem conflitos, ainda por causa do biotipo, mas não propriamente por se acharem feios, mas por se acharem gordos, magros demais, baixos demais, altos demais.

 

Por mais incrível que isso possa parecer, os indivíduos se atormentam por quaisquer dessas situações.

 

Aqueles que são gordos demais ou que se acham gordos demais poderiam bem imaginar-se numa outra situação. Entre as classes melhor aquinhoadas, não se diz que alguém está gordo, se diz que alguém está forte e a simples palavra mudada de gordo para forte dá uma outra expressividade.

 

E aquelas criaturas que se acham gordas demasiadamente passam a usar preto, se vestem de preto, porque se diz nos mundos da moda, nos campos da moda, que preto emagrece.

 

Se isso fosse verdade não se venderiam outras cores no mundo. Em realidade, a cor escura diminui a visão do contorno, mas a criatura continua portando a mesma massa.

 

Desse modo por que se atormentar porque o corpo é maior do que o convencional?

 

Mas, qual é o convencional? Estabelecemos que o convencional é ser magro e aí temos os problemas das anorexias com as modelos, com os modelos. Encontramos tantos problemas porque as pessoas desejam ser magras e outras porque são magras.

 

Quem é magro se acaba de tomar substâncias, de comer alimentos, na tentativa de mudar o processamento glandular, celular e engordar.

 

E quem é gordo se acaba de fazer dietas da lua, do sol, da água, de Beverly Hills para perder massa.

 

Os conflitos são os mais variados. Mas há aqueles que têm conflitos porque são baixinhos e usam saltos tenebrosos. Saltos que lhes deformam a coluna vertebral, que lhes causam problemas gravíssimos de postura.

 

Mas, aqueles que são altos ficam tão complexados que começam a se envergar. Na Inglaterra, uma familiar real mandou cortar parte dos ossos das pernas para baixar um pouco a sua estatura. Conflitos.

 

Mas, esses conflitos estão ao nível do corpo, das coisas externas, daquilo que se vê, daquilo que se observa, mas há diversos outros conflitos que estouram no íntimo da alma, se manifestam nas atitudes das criaturas e que ninguém sabe como é que eles nascem, de onde é que eles vêm e o que é que provocarão.

 

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Nesse território dos conflitos, encontramos conflitos de outras ordens. Imaginemos o que vem a ser o conflito sexual nas pessoas. Terrível.

 

Porque é muito comum que os indivíduos se debatam e isso é uma característica da Humanidade em geral, entre as pressões da sua libido, as pressões da sua imaginação, das suas fantasias, as pressões do seu passado, das suas bagagens, do seu passado espiritual, da sua bagagem ético-moral. Há aqueles que vivem o conflito da definição quanto à sua orientação sexual. Sentem pressões internas para a homossexualidade, mas têm horror porque a sociedade castiga a homossexualidade.

 

Pretendem ficar no território da heterossexualidade, mas fazendo fantasias homossexuais, bissexuais, multissexuais. Porque tudo isso corresponde a etapas no desenvolvimento da criatura humana.

 

Não é feio ser hetero, ser homo, ser bi. A criatura se encaixa no seu momento evolutivo.

 

Não é bonito ser hetero, ser homo, ser bi. O importante é que nós dirijamos a própria mente para o que precisamos fazer na Terra.

 

A dignidade, a honestidade, o trabalho por nós mesmos, a ajuda às pessoas e vamos disciplinando da maneira como conseguimos, como nos é mais fácil a expressividade da sexualidade.

 

É muito comum imaginar-se que a sexualidade está na genitália, na expressão genital. A sexualidade é uma força que está na mente, na alma, no íntimo das criaturas.

 

Muita gente que se manifesta exteriormente segundo uma característica sexual, digamos, da heterossexualidade, na sua fantasia interna, onde a verdade existe, ela vibra em outra sintonia, ela lida com outras realidades e isso gera-lhe conflito.

 

Devo ficar no armário? Como se diz popularmente, devo sair do armário? Devo me apresentar na praça pública? Pintar-me, não pintar-me, vestir-me opostamente?

 

Nada disso é sexualidade. Tudo isso faz parte do exibicionismo das pessoas. Porque há mulheres que se vestem de homens, há homens que se vestem de mulheres. Tudo isso faz parte do seu gosto por se fantasiar.

 

A nossa roupa é uma fantasia, é uma maneira que a gente escolhe para se apresentar no mundo.

 

Eu quero me vestir de roxo, de preto, de amarelo. Mas eu quero com mangas compridas, com mangas curtas. Mas eu quero com dez botões, com quinze botões. São fantasias.

 

A realidade mais verdadeira é a que pulsa dentro do ser. Os conflitos sexuais vão desde os problemas meramente psicológicos, que um analista ajudaria resolver, aos homicídios, aos suicídios, à suposição de que está sendo violado, de que está sendo traído, de que está sendo enganado.

 

Há os conflitos de ordem religiosa: Eu devo ou  não devo ser religioso? O que é ser religioso? Adoto a religião A, a religião B ou a C? Curvo-me aos meus líderes religiosos, faço o que eles me mandam fazer e perco a minha liberdade de escolha? Será que eles de fato conversam com Deus?

 

Será que realmente eles são intermediários entre mim e Deus? Afinal de contas, devo repetir o que se diz na minha crença ou devo pensar por mim mesmo e ter a minha cabeça baseando-me na minha crença? Os conflitos.

 

Devo ser fanático? Aqueles que não creem como eu estão no inferno, estão perdidos? Mas os outros que creem diferente de mim alegam que eu também estou perdido. Em que patamar eu fico? Em que patamar eu me estabeleço?

 

É muito importante pensar nesses conflitos. De acordo com sua intensidade, eles precisam de um socorro, de uma ajuda. Às vezes, de uma ajuda profissional, de um psicólogo bem recomendado, bem estruturado, porque há vários muito desestruturados.

 

Precisamos do apoio de um médico, às vezes, de um psiquiatra. O psiquiatra não é médico de loucos, é um médico que nos ajuda a não ficar loucos ou a tratar a insanidade que surja.

 

Muitas vezes, precisamos de um apoio do nosso líder religioso, uma conversa, um diálogo para que ele nos ajude a equilibrar as próprias tensões internas. No mundo, não há uma única pessoa que não viva conflitos, de quaisquer ordens.

 

Há aqueles conflitos que são do cotidiano: se como ou se não como, se vou ou se não vou. Mas há conflitos de ordem grave, que exigem uma resposta séria, de quem os porta, uma busca por solução, seja em nível médico, em nível social, em nível psicológico mas, fundamentalmente, que seja uma resolução dentro de nós.


Transcrição do Programa Vida e Valores, de número 160, apresentado por Raul Teixeira, sob coordenação da Federação Espírita do Paraná.
Programa gravado em julho de 2008. Exibido pela NET, Canal 20, Curitiba, no dia 22.11.2009.
Em 9.12.2021

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