O livre-arbítrio e o carma

Quase sempre as pessoas gostam de atrelar as situações da sua vida a coisas imponderáveis.

 

Atribuem à sorte, ao azar, à boa estrela, à má estrela. Cada um acha que nasceu sob um comando diferente, um comando astral. Boa lua, uma lua ruim. E, dentro desse campo de asserções espirituais, psicológicas, astrais, existe a tese do carma.

 

Fala-se em carma com muita tranquilidade, mas poucas vezes nos detemos para avaliar o que realmente seja o carma ou a lei do carma.

 

Essa palavra ela tem origem no sânscrito. E o sânscrito uma língua que foi falada na Índia, tinha por sentido dizer que carma corresponde à Lei de Causa e Efeito. Carma tem a ver com causa e efeito.

 

Quando o grande Buda referiu-se à roda do carma, ele estabeleceu que sobre a roda do carma estão todas as pessoas.

 

Imaginemos uma roda gigante, uma roda gigante de um parque de diversões e esses indivíduos que ora estão no topo da roda, na medida em que ela se move, eles vão modificando de posições.

 

De repente, alguém que estava no topo da roda, estará na parte mais baixo dela e quem estava na parte mais baixo dela estará no topo da roda. Desse modo, todas as outras posições se modificam sobre a roda.

 

O carma, então, é essa expressão que estabelece que nós todos mudamos de posição ao longo da vida, em função de nossas necessidades, de nossas realizações, daquilo que operamos ou do modo como operamos. ao longo da vida.

 

Buda, então, estabelecia a existência de um carma positivo, e de um carma negativo.

 

Ora, todas as vezes que nos referimos a carma negativo, será o efeito do ato negativo, já que é causa e efeito. Se a causa é negativa, o efeito é doloroso, carma negativo.

 

Mas, carma positivo decorre dos efeitos positivos que tiveram causas nobres. Quando se fala em carma, no vulgo, no popular, sempre se refere a sofrimentos. Fulano tem um carma muito difícil. Beltrano tem um carma fácil, isso ninguém diz, só se fala em carma difícil.

 

Quando alguém está sofrendo muitas dores, muitas dificuldades é o carma dele. Mas, quando alguém é feliz, com uma família bonita, os filhos estudiosos, uma saúde perfeita, ninguém jamais diz: Que carma maravilhoso! E poderia dizer.

 

Porque alguém que vive na Terra situações de alegria continuada, dentro das limitações planetárias, é óbvio, mas alguém que tem uma família harmonizada, alguém que goza de saúde, que desfruta de boas condições sociais, que tem dinheiro para gastar sem dificuldades, é um carma.

 

Esse indivíduo fez por onde viver essa facilidade. Não estamos considerando os que a vivem-na pelo furto, pela falcatrua, não.

 

Estamos considerando as situações naturais, em que as criaturas trabalham, em que as criaturas herdam, em que as criaturas crescem e têm uma vida de felicidade. E essa felicidade, certamente, é seu carma positivo.

 

Então, carma não quer dizer fatalmente, tragédia, dor, dificuldade. Carma tem essa acepção de causa e efeito.

 

Nós poderemos desenvolver em nossas vidas carma de dor ou carma de amor. Essa, certamente, será uma definição que nós daremos ao próprio caminho.

 

É desse modo que percebemos que o carma só se estabelece depois que nós acionamos a nossa liberdade de agir.

 

Se o carma é considerado como causa e efeito, ele só existirá a partir de alguma causa que eu engendrei, de alguma atitude que eu desenvolvi, de alguma aventura da qual participei.

 

Desse modo, quando nós falamos em carma, em Lei de Causa e Efeito, isso não é uma coisa aleatória, a Divindade não nos impõe um carma. O carma é sempre consequência da nossa liberdade de ação.

 

O carma será sempre consequência do nosso livre-arbítrio, essa capacidade que temos de arbitrar a respeito da nossa própria existência. O que eu faço ou deixo de fazer com minha própria vontade está na conta do meu livre-arbítrio.

 

*  *  *

 

A partir do momento que nós passamos a saber disto, que o carma que eu estabeleço para minha vida está atrelado ao meu modo de agir, à ação do meu cotidiano, ao meu modo de pensar, à minha visão de mundo, à maneira como eu trato os outros, como eu reajo diante das situações, nós podemos bem compreender porque é que ninguém foge dessa Lei de Causa e Efeito.

 

Porque, a partir do momento que nós acionamos essa roda, e ela passa a se movimentar, não temos mais como detê-la. Por isso é que nós ficamos responsáveis pelos nossos atos, pelas nossas ações, pelas nossas realizações, em qualquer época de nossa existência.

 

Desse modo, muitas vezes começamos a acertar as consequências negativas de nossos atos impensados desde aqui da Terra. Causas atuais das aflições, lembra-nos o Espiritismo.

 

Mas, encontramos possibilidade de continuar a acertar essas coisas complicadas que criamos aqui para além da desencarnação, para além da morte física.

 

E aí então, continuamos a amargar as consequências danosas dos nossos atos no mundo dos Espíritos, para onde vamos depois que saímos do corpo, por ocasião da morte física.

 

O que acontece é que no mundo dos Espíritos nós  vamos nos retemperar, vamos encontrar com nossos guardiães, aqueles Espíritos responsáveis por nossa estada na Terra, por nossa vida no mundo, pela existência que se acabou, e eles nos dirão onde foi que nós erramos, onde foi que nos equivocamos, e nos proporão mudanças, reformas, reestruturações, a partir daquelas coisas boas que nós plantamos e a partir das coisas negativas que semeamos.

 

E é daí que nós renascemos na Terra com as marcas das ações transatas. Aí entendemos porque nascem crianças com defeitos físicos, com defeitos congênitos.

 

Entendemos porque é que nascem crianças com enfermidades. Às vezes, enfermidades que os pais não têm, que os pais nunca tiveram, mostrando que é um problema delas.

 

Daí entendermos porque nascem pessoas em contingências paupérrimas, em condições sociais lamentáveis.

 

Entendemos porque é que nascem crianças anencéfalas, descerebradas, mutiladas. Não é porque o Criador da vida seja cruel. É porque existe uma lei, chamada Lei de Causa e Efeito.

 

E nós todos temos que nos recordar, aqueles que um dia passamos os olhos pelas páginas da Boa Nova de Jesus Cristo, que Ele, um dia, disse que se os nossos olhos fossem motivo de escândalo, que era melhor arrancá-los e pô-los fora. Melhor seria entrar na vida sem os olhos do que tendo-os, tivéssemos que perder a alma.

 

 Se nossas mãos fossem motivo de escândalo, propôs o Mestre, que as arrancássemos, as cortássemos e as atirássemos fora. Melhor entrar na vida sem as mãos do que tendo as mãos,  pudéssemos perder a paz interior, a alma, o equilíbrio.

 

Quando pensamos nisto, verificamos que Jesus Cristo estava se referindo à vida futura porque, afinal de contas, aquelas criaturas a quem Ele falava, já estavam vivendo, e Ele se referia: É melhor entrar na vida... Que vida seria essa, se as criaturas já estavam ali e Ele se referia a elas, se dirigia a elas?

 

A vida futura. É por isso que renascemos com faltas, com carências daquilo que fizemos mau uso no passado.

 

Todos os órgãos, todas as funções das quais hoje façamos mau uso, dos quais hoje façamos equivocados usos, naturalmente serão os órgãos ou as funções que nos darão problemas no futuro.

 

Aí, encontramos os problemas oftálmicos, auditivos, reumáticos, as doenças autoimunes, aquelas que o próprio organismo cria contra si. Causa e efeito, a cada um segundo suas obras.

 

É por causa disto que o carma, esses acontecimentos da vida, positivos ou negativos, que o vulgo fala com tanta facilidade, que nós costumamos falar com tanta tranquilidade, tem a ver com o nosso livre-arbítrio; a nossa liberdade de ação determinando as consequências atuais ou futuras da nossa harmonia ou dos nossos sofrimentos.


Transcrição do Programa Vida e Valores, de número 143, apresentado
por Raul Teixeira, sob coordenação da Federação Espírita do Paraná.
Programa gravado em abril de 2008. Exibido pela NET,
Canal 20, Curitiba, no dia 12.4.2009.
Em 27.9.2022

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