Jorge Andréa dos Santos

Psiquiatra, escritor e expositor espírita, foi Presidente de Honra do Instituto de Cultura Espírita do Brasil - ICEB, sendo considerado uma das mais importantes figuras do Movimento Espírita no Brasil. Também foi Oficial da FAB - Força Aérea Brasileira.

Nasceu em Salvador, a 10 de agosto de 1916. Veio de uma família muito interessante, com três irmãs, uma mãe maravilhosa, Estelita Andréa e um pai também muito tolerante, Mário Andréa dos Santos, que o fez estudar Medicina, porque ele era professor da faculdade de Medicina na Universidade Federal da Bahia, na área de Histologia e Embriologia Geral. Foi ali que se formou Jorge Andréa.

O pai tinha uma biblioteca com cerca de dois mil livros, quase na totalidade em língua francesa, porque a França estava absolutamente à frente do mundo inteiro na época.

Andréa começou a lê-los aos quatorze anos, logo após ter feito um curso de francês com uma professora. Entrou na Faculdade de Medicina entre dezesseis/dezessete anos. Era um tempo em que os estudos tinham uma estrutura diferente da atual, menos complexa. Concluiu a Faculdade aos vinte e um/vinte e dois anos.

Iniciou a clinicar como cardiologista, clínico geral, e chegou a ser interno no Hospital, na área de ginecologia. Foi assistente de seu pai, lecionou na Faculdade de Medicina durante seis a sete anos.

Jovem comunicativo e curioso, vivendo na Bahia, conheceu, nas rodas de capoeira, o famoso Mestre Bimba; aproximou-se das reuniões com artistas, ganhando a simpatia de futuros expoentes nacionais, como Dorival Caymmi, com quem compartilhou momentos de criação, composições musicais, poesias e devaneios nas reuniões ao luar, nas praias de Salvador: É doce morrer no mar...

Aos vinte e sete anos, transferiu-se para o Rio de Janeiro, a fim de se especializar e fazer concurso. Ficou hospedado em casa de sua tia, em Botafogo. Passava o dia lendo, prestou concurso para CESP, INSS e Aeronáutica. Passou em todos. Optou pela Aeronáutica, pois lhe disseram que estava enviando pessoas para os Estados Unidos e ele ansiava por isso.

Enquanto participava do curso de aperfeiçoamento inicial, de cerca de quatro meses e meio, para se adaptar à vida militar, conheceu uma jovem de dezenove anos, Gilda, filha de um juiz em Miracema, no Estado do Rio, também fazendeiro, e começou a namorar.

Ao ser enviado ao Ceará, findo o curso, estava noivo. Um mês depois, ele pediu uma licença para retornar ao Rio, a fim de se casar com a assistente social Gilda.

Com Gilda, teve oito filhos, dois nascidos no Ceará, um em Salvador, um em Minas Gerais e quatro no Rio de Janeiro.

Ainda recém-casado, o jovem  Jorge Andréa sentiu o impacto emocional que abalou todo o planeta, nos atos finais da II Guerra Mundial, em agosto de 1945, ao tempo da ação militar dos Estados Unidos na luta contra a frota de aviões japoneses. Iniciativa de guerra, sem precedentes na história planetária, o lançamento de primeiras bombas atômicas dizimaram populações civis (cidades de Hiroshima e Nagasaki, no Japão).

Foi no Ceará que teve seu primeiro contato com o Espiritismo. Levaram-no para assistir a uma reunião mediúnica e percebeu no médium um processo psicológico. Começou a ler a respeito de psicologia, psiquiatria. Foi o processo mediúnico que lhe chamou a atenção para a psiquiatria e para as questões da mediunidade.

Fez carreira na Força Aérea Brasileira, viajou por todo o Brasil. As viagens mensais, pelo Correio Aéreo Nacional, levaram-no a tribos indígenas, de cuja saúde passou a cuidar: foi o caso das aldeias no Rio das Mortes, acompanhando a saga dos irmãos Villas Boas. O pajé da tribo aguardava sempre os encontros com o pajé branco, doutor Jorge Andréa, que tratava as gripes das crianças. Os doentinhos, em suas redes, ficavam à espera do tratamento com aspirina ou a injeção verde de Eucaliptina. Sempre o jovem médico era recebido como um espírito do bem. Retornou, depois, a Salvador, e, como lembrança, pendurou uma flecha indígena na sala de estar de casa. Ali passaria a fazer os estudos da Doutrina Espírita, fenômenos espirituais, intercâmbio entre os planos da vida. A Doutrina a desdobrar-se em novas dimensões e espaços desafiadores no campo pessoal...

Ao correr de seus dias conheceu outros tarefeiros com missões alinhadas à sua, como foram os casos do professor Carlos Torres Pastorino e do médium Francisco Cândido Xavier, nascidos seis anos antes dele. Outros notáveis contemporâneos, também tiveram linhas de vida cruzadas às suas, como Viktor Frankl (filósofo, psicólogo, psicanalista), nascido em 1905, e Carl Jung, em 1875. Cite-se, ainda, Sigmund Freud, pai da psicanálise, nascido sessenta anos antes, referência para as gerações seguintes.

Na qualidade de médium intuitivo passou a escrever. Diz que dormia, acordava, as ideias vinham, e ele escrevia. Os desenhos esquemáticos dos seus livros também são de sua autoria.

A produção literária do Dr. Jorge Andréa iniciou-se ao final da década de 1960. Em 1967, aos cinquenta e um anos, publicou o livro Novos horizontes nas distonias mentais, sobre fenômenos espíritas. Seguiram-se: Energias espirituais nos campos da biologia (1971), Enigmas da evolução (1972), Palingênese: a grande lei (1975), Energética do psiquismo: Fronteiras da alma (1976), Dinâmica espiritual da evolução (1978), Forças Sexuais da alma (1978), Psicologia espírita, v. 1 (1978), Os insondáveis caminhos da vida (1981), Encontro com a Doutrina Espírita (colaboração com Deolindo Amorim e Alexandre Sech),  A dinâmica psi (1982), Correlações espírito-matéria (1987), Com quem tu andas (em cooperação com Hermínio C. Miranda e Suely Caldas Schubert – 1987), Impulsos criativos da evolução (1989), Lastro espiritual dos fatos científicos (1989), Visão espírita nas distonias mentais (1990), Nos alicerces do inconsciente (1990), Psicologia espírita, v. 2 (1991) e Busca do campo espiritual pela ciência (1993).

Ampliou estudos, publicando Psiquismo: fonte da vida (1995), Segredos do Espírito (1999), Ciência, Espiritismo e reencarnação (2000).

À entrada do novo milênio, declarou: Fico alegre pelo reconhecimento de alguma coisa por mim produzida, que tenha valor para as pessoas...

Em 2006, publicou Ressonância espiritual na rede física, e sua última obra, Fiações espirituais na ciência.

Jorge Andréa dos Santos recebeu, em 2009, aos noventa e três anos de idade, as homenagens e o respeito dos Espíritas nacionais e internacionais, como por exemplo, a homenagem prestada pelo Programa Novos Rumos, da Rádio Rio de Janeiro, no dia 27 de agosto.

Essas homenagens se repetiram, ainda com mais intensidade, em 2016, quando completou um século de vida. Foram realizados eventos, lançamento de livro com uma retrospectiva de sua obra e de um DVD contendo uma entrevista feita com ele pelo jornalista André Trigueiro.

Divaldo Franco, seu contemporâneo e amigo, comentou: Admiro o cientista, respeito o orador e leio, com interesse, seus artigos.

Jorge Andréa desencarnou em 1º de fevereiro de 2017.

Revista Cultura Espírita, agosto2016.
Revista Presença Espírita, jan./fev,/2019.
Em 20.2.2019.

© Federação Espírita do Paraná - 20/11/2014