Glórias do Natal - Joanna de Ângelis
Em toda parte, quase onde brilhava o Sol no planeta terrestre, encontrava-se a dominadora águia representando o Império Romano, sedento de poder e dominação arbitrária.

O mundo estorcegava-se sob as legiões gloriosas e o sofrimento tornara-se quase insuportável para os vencidos.

Leis perversas submetiam as populações conquistadas, escravizando-as sem qualquer piedade.

A miséria econômica aumentava na razão direta em que ocorria a governança política, a tudo e a todos esmagando.

Respirava-se o ar mefítico do sofrimento sem-nome.

A sociedade estava praticamente dividida entre vencedores e vencidos, sobrecarregados, estes últimos, de desdita e horror.

Nada valendo a criatura destituída de destaque social nesta ou naquela área, mal sobrevivia espezinhada e sem qualquer direito, sequer o da existência corporal.

Verdadeiras legiões de miseráveis deambulavam pelas ruas das cidades, carregando a cruz da escravidão e do abandono. Nada valiam, senão para o escárnio e perseguição inclemente.

Eram tempos de selvageria, e em outras ocasiões nações experimentavam algo semelhante: os vencedores das incessantes guerras em que se consumiam dizimavam a dignidade e se embriagavam na loucura do ódio, mesclado com a luxúria e a degradação. Com muita dificuldade despontava aqui e ali o pensamento filosófico e a Arte, que eram manipulados pelos triunfadores nos excessos de suas loucuras, mais tarde vencidos por outros não menos impiedosos.

A liberdade de pensamento desaparecera, asfixiada na intolerância a serviço do crime. Não havia dimensão aceita para o absurdo dos despautérios.

A hediondez pairava soberana em toda parte ovacionada pela traição, o suborno e a governança das Fúrias.

Nada obstante, em todos os povos mantinha-se o sopro divino de que Ele viria um dia, quando menos se esperasse.

Seria qual primavera de bênçãos e luzes dignificando a vida e abrindo os braços amorosos para poder afagar a Humanidade num só amplexo de incomparável ternura feita de misericórdia.

Os sátrapas, que dominavam um dia, temiam-nO, e os demais guerreiros, cruéis e odiados, receavam-nO.

Cada povo, em suas tradições multisseculares, sabia que um dia viria o Conquistador inconquistado e estabeleceria na Terra um reinado de paz.

Israel, que se acreditava merecedora da honra por ser monoteísta, exaltava esse Messias libertador e repetia sem cessar que naquele período Ele chegaria como um poderoso dominador, concedendo-lhe liberdade e o cetro da governança do mundo.
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Também Israel se encontrava sob o peso do padecimento imposto pelos romanos, anelando para que Ele aparecesse e fizesse cumprir as antigas profecias. Mas o seu povo desgastara-se nas lutas infelizes das disputas sem sentido e se encontrava dividido em classes que se antagonizavam, gerando um clima de ódios e desafios constantes.

Governado por um estrangeiro subalterno a César e homicida inclemente, dominado pelo medo e destruidor incomum, espalhara o terror por todo o território que submeteu à prole destituída de sentimentos elevados, esmagando cada vez mais aqueles que lhe sofreram a crueldade.

Aquele era um momento especial na política do Império Romano, porquanto estava sob a dominação de Otávio, que sobrevivera aos outros triúnviros, havendo sido coroado imperador em 31 a.C.

Aparentemente houve uma paz quase generalizada em toda parte, e foi no momento em que floresciam a Arte, a Filosofia, a beleza em Roma e na imensa extensão territorial, que Ele veio, assessorado pelos anjos em uma noite inesquecível, sob as estrelas luminíferas em uma gruta de calcáreo onde repousavam animais.

Nenhum séquito de anunciadores fazendo soar as trompas guerreiras ou as homenagens dos criminosos que governavam o mundo.
Visitado por pastores humildes entre animais domésticos e a natureza, Ele veio ensinar felicidade e amor como dantes nunca ninguém o fizera.

Desconhecido por algum tempo, a Sua voz se fez ouvir no Templo, aos Seus 12 anos, e somente mais tarde, bem depois, enunciaria as notas de incomparável beleza da Sua sinfonia da Boa-Nova.

Jamais alguém que se lhe comparasse ou pudesse realizar o que Ele fez.

Modificou todos os padrões da ética e do poder, demonstrando que o Amor é a mais notável Lei que o Pai oferece à Humanidade, a fim de alcançar a plenitude.

Viveu conforme ensinou todos a viverem.

Entregou-se ao amor e à misericórdia, no entanto, não foi aceito, porque não O compreenderam e porque se negou a ser igual aos que O anteciparam.

Deu a todos a Sua vida, a fim de que pudessem retornar ao Pai em clima de harmonia total.

Até hoje, ninguém que se lhe assemelhasse, embora legionários do Seu amor hajam renascido ao longo dos séculos para manterem viva a mensagem do Seu inefável amor. Nestes dias, a lembrança do Seu nascimento é como um punhal cravado na memória do mundo, para que todos se deixem impregnar pela incomparável lição de vida que foi entre nós a Sua vida.
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Chega o Natal e a Sua voz ecoa através dos séculos, convidando a Humanidade neste momento difícil, àquele semelhante, para que Ele nasça ou renasça na sua existência. Jesus está aguardando que as dores que vergastam a sociedade sirvam de estímulo para a busca imediata do bem e do amor, por meio da caridade que são as Suas mãos, ajudando e amparando a todos.

É Natal. Viva as glórias do Natal!

Joanna de Ângelis
Psicografia de Divaldo Pereira Franco, na sessão da noite
de 23.9.2022, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em
Salvador, Bahia.
Em 5.1.2023.

© Federação Espírita do Paraná - 20/11/2014